O filme "One Love", que retrata a vida de Bob Marley, um ícone musical e símbolo de resistência, desperta grande expectativa. Afinal, a história do músico transcende o cenário musical, entrelaçando-se com a luta pela igualdade racial e social na Jamaica. No entanto, ao assistir ao filme, uma sensação de frustração toma conta do espectador. A narrativa, embora tecnicamente impecável, peca pela superficialidade com que aborda momentos cruciais da vida de Bob Marley.
Compreende-se que a adaptação cinematográfica demande escolhas, mas a trajetória de Bob Marley é complexa e multifacetada. Sua ascensão à fama como cantor é apenas um capítulo de uma história marcada por ativismo político e engajamento social. O movimento rastafari, a luta contra o racismo e a busca por justiça social na Jamaica são pilares que sustentam o legado de Marley, e sua omissão no filme limita drasticamente a compreensão de sua figura.
A atuação de Kingsley Ben-Adir como Bob Marley é digna de nota, capturando a essência do músico com sensibilidade e força. Lashana Lynch também entrega uma performance impecável como Rita Marley, retratando a força e o amor que permeavam a relação do casal. No entanto, a falta de foco na dimensão política do personagem impede que o filme alcance todo o seu potencial.
A Jamaica, cenário fundamental para a história de Bob Marley, parece subutilizada no filme. O contexto político e social da época, crucial para entender as motivações e o impacto do músico, é apenas esboçado, deixando a narrativa incompleta. Como resultado, "One Love" se aproxima mais de uma cinebiografia musical tradicional do que de um retrato abrangente de um artista engajado em seu tempo.
Em suma, "One Love" emociona ao apresentar a trajetória de Bob Marley e sua inegável contribuição para a música. No entanto, a frustração reside na oportunidade perdida de explorar a fundo a dimensão política e social de sua figura, essencial para compreender sua real importância. A menção ao histórico One Love Peace Concert de 1978, idealizado por Marley e que reuniu artistas em prol da paz, reforça ainda mais a relevância do contexto político que o filme ignora.